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domingo, 31 de julho de 2011

Muito mais que uma história

Imagem do Pottermore, extraída da Galeria Potterish.


A primeira pessoa que eu ouvi dizer que Harry Potter marcaria uma geração foi meu pai, e isso já tem um bom tempo. É algo até meio óbvio de você parar pra pensar que o primeiro livro da série foi publicado no Reino Unido em 1997, a série foi traduzida para mais de 67 idiomas, e vendeu algo em torno de 450 milhões de exemplares. Tudo num período de 14 anos. Sem falar nos filmes, que juntos arrecadaram nas bilheterias do mundo cerca de 7 bilhões de dólares.

Eu tinha 8 anos quando conheci Harry Potter. Em 2001, eu estava passando meu último ano em Brasília, e minha prima Cassiana tinha ido morar conosco. Ela estava lendo o 3º livro da série, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, e ria tanto escondida atrás daquelas páginas, que despertou minha curiosidade.

Eu sempre gostei das letras. Aprendi a ler por interesse próprio e muita insistência, antes mesmo de começar a alfabetização, e como filha de professores, cresci cercada de livros.

Naquela época eu lia e relia livros pequenos e gibis da Turma da Mônica. Eu nunca tinha lido um livro sem ilustrações e com tantas páginas quanto Harry Potter e a Pedra Filosofal. Era óbvio que eu não conseguiria terminar de ler aquilo em uma tarde, e a idéia de passar alguns dias lendo a mesma história me parecia estranha. Eu pensava que de um dia pro outro perderia o fio da meada e as coisas não fariam sentido. Arrisquei mesmo assim, mas "a tal da família Dursley" não me cativou e não cheguei a terminar o primeiro capítulo.

Então chegou dezembro e minha prima me levou para ver o filme no cinema. Foi realmente incrível! Eu custei a acreditar que tudo aquilo realmente acontecia naquele livro que começava apresentando personagens tão chatos quanto os Dursley. Eu tinha que ler pra saber.

No entanto, não comecei a ler imediatamente. Em janeiro de 2002 minha família e eu voltávamos para Belém, e levamos alguns tempo até encontrarmos uma casa, concluirmos a mudança e nos organizarmos de novo.

Em algum momento de 2002 dei mais uma chance para Harry Potter e a Pedra Filosofal, e passado o primeiro capítulo, não me desgrudei da série até terminar o quarto livro. E era só onde eu podia chegar, já que Harry Potter a a Ordem da Fênix, a continuação, não tinha sido publicada nem mesmo no Reino Unido.

Não sei como descobri que o 5º livro estava sendo escrito e seria publicado. Se foi pela internet discada e o velho bom Google, ou se pelas dezenas de revistas que eu catava nas bancas procurando qualquer menção à série. Acho que foi aí que me tornei fã. Procurando em todo canto por qualquer informação sobre Harry Potter que pudesse me tranquilizar de que viriam mais filmes e livros.

E isso também me abriu as portas do mundo da literatura infanto-juvenil. Livros maiores e sem ilustrações, que levavam mais de um dia para se ler, e me faziam usar a imaginação como nunca antes.

Não posso dizer que sem Harry Potter eu não seria a louca por livros que sou hoje, mas ele sem dúvida foi o começo de uma nova fase pra mim. E ele me deu amigos que eu jamais faria de outra forma, e me ensinou valores que talvez eu não aprendesse com tanta facilidade. O valor da amizade e do amor, da sabedoria e da coragem. Valores simples e esquecidos, ensinados por personagens tão humanos, que parecem saltar das páginas dos livros.

O segundo filme, lançado em novembro daquele ano veio para preencher o vazio deixado pelo fim da leitura de Harry Potter e o Cálice de Fogo.

Já com 10 anos , eu espantava minha família no fim do ano de 2003, andando durante exatamente uma semana para todo canto com um livro de 702 páginas (Harry Potter e a Ordem da Fênix, meu presente de Natal) debaixo do nariz. Assim, meio Hermione Granger.

No primeiro semestre de 2004, reli incontáveis vezes Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, na expectativa para o lançamento do filme em junho. Eu desejava nessa mesma época, no fundo do coração, que quando eu completasse 11 anos em julho, uma coruja deixasse uma carta pra mim na porta de casa, dizendo que eu tinha uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Sim, mesmo que eu não falasse inglês.

Durante todos os anos que se seguiram, acompanhei cada lançamento de livro e de filme com um frio na barriga de expectativa. Em alguns momentos estive mais ligada nas notícias sobre a série do que em outros, mas sempre acompanhei. E ela sempre me acompanhou.

O último livro, lançado em 2007, quando eu tinha 14 anos, trouxe a conclusão da história, mas ainda não era o fim. Nós fãs ainda tínhamos com o que nos ocupar, filmes pela frente, ainda faltava alguma coisa. A leve tristeza que senti com o fim do livro nem se compara a como me senti nesse último dia 15 de julho.

Se Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 já havia me levado aos prantos no cinema no ano passado - com a cena inicial ao som de Obliviate, música composta por Alexandre Desplat que não poderia ser mais perfeita, e as várias mortes de personagens queridos - Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 bateu todos os meus recordes de choro no cinema.

Foi emoção do começo ao fim, lágrimas rolando constantemente, e não foi choro só de olhos marejados. Foi aquele que aperta o peito, que fecha a garganta, que faz a respiração ficar difícil e deixa a gente de nariz vermelho, fungando depois.

E como ir embora no fim do filme, depois de ouvir a saudosa Leaving Hogwarts? Fiquei sentada, meio dividida entre uma satisfação imensa e depressão profunda, meio perdida, vendo os créditos passarem como se cada nome piscando ali na tela fosse de alguém muito querido que estava dizendo adeus. E de alguma forma é isso mesmo.

Depois do último nome, da última nota musical, fui andando ainda atordoada, relutante, com cara de choro, querendo voltar no tempo pra quando era só uma garotinha, esperando pelo próximo grande lançamento. Depois de chegar em casa, fiquei ouvindo End Of An Era como se fosse a única música no mundo, e absorvendo cada verso: as palavras que eu não conseguia encontrar dentro de mim.

Só me lembro de ter chorado mais e sentido uma dor maior, quando perdi pessoas que eu amava. Minha mãe e minha avó paterna em 2007, e meu avô materno em abril deste ano. Mas aprendi com meus livros favoritos que as pessoas que nos amam, e que nós amamos, nunca nos deixam de verdade. Nós sempre poderemos encontrá-las em nossos corações. Harry me mostrou que é preciso ser forte, que há coisas piores do que a morte, e que é possível ser feliz, mesmo depois de momentos de imensa tristeza.

E mesmo que não hajam mais livros e filmes sobre o garoto com cicatriz em forma de raio na testa por vir, eu sempre poderei encontrá-lo. Porque as histórias que nós amamos nunca acabam de verdade. Elas continuam sendo contadas.